1 de fev. de 2009

Medicina e tecnologia da informação criam novas profissões

A medicina se une cada vez mais à tecnologia de ponta - robôs servem de assistentes de médicos, surgem sofisticados programas de diagnósticos por imagem, cirurgias e pacientes já são monitorados a distância.
Esse fenômeno não só cria novas profissões como exige a educação continuada dos profissionais da saúde, bem como abre frentes para especialistas de outras áreas que nunca imaginaram atuar neste campo.
Médicos tornam-se executivos, físicos trabalham em hospitais e engenheiros começam a estudar medicina. Em centros de pesquisa brasileiros de ponta há investimento em várias especializações. 'Temos profissionais bolsistas em doutorado em genômica (com enfoque em câncer), neurociência, e-medicine (monitoramento de doentes), terapia celular e pesquisas clínicas', comenta o geneticista Carlos Alberto Moreira, diretorsuperintendente do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do Hospital Albert Einstein, ao comentar as áreas que ganham ênfase hoje e a necessidade que a instituição tem de atualizar seus profissionais. 'Há mais campo de trabalho em pesquisa de doenças vasculares, neurologia e oncologia (esse último principalmente em diagnóstico)', diz o executivo, que atua como pesquisador há 25 anos.
Ele comemora o fato de que ao longo da sua carreira presenciou vários avanços. 'Acompanhei de perto a grande explosão da biotecnologia e o advento da imagem'. Agora, além de reciclar os profissionais do Einstein, o IEP oferece hoje uma série de especializações para profissionais de saúde. Lá são ministrados 20 cursos de pós lato sensu, como medicina nuclear, patologia clínica, psicologia hospitalar.
Um dos principais entusiastas do casamento da medicina com a robótica é o coordenador geral da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Chao Lung Wen. Ele explica que hoje ocorre uma convergência de profissões em prol da saúde. 'Os profissionais de tecnologia da informação e ciências da computação são importantes para viabilizar os portais de aquisição de informações e obtenção de segunda opinião médica', diz.
'Eles atuam na comunicação via videoconferência ou streaming (áudio mais vídeo em tempo real), no desenvolvimento de softwares acoplados a equipamentos de diagnóstico ou mesmo a robôs que auxiliam em cirurgias, desenvolvimento de ferramentas para educação de médicos e público geral.'
Também cita a criação de soluções para facilitar o tráfego, acesso e armazenamento de dados médicos (prontuários eletrônicos, redes digitais, bancos de dados).
O cirurgião cardiovascular Leonardo Esteves Lima, que trabalhou como cirurgião-assistente no Hospital La Pitié-Salpêtrière - o maior da capital francesa, para onde a princesa Diana foi encaminhada em estado quase terminal -, chega a fazer prognósticos. 'Em dez anos, 70% das cirurgias, todas elas, serão feitas com o auxílio da robótica.' Suas últimas empreitadas envolvem a bioengenharia, paixão de adolescente, que ele traduziu em meticulosos robôs, desenvolvidos por empresas americanas e testados por ele em cirurgias cardíacas, que se movem apenas pelo reconhecimento de voz.
'Tenho estudado muito a força da migração da tecnologia da informação para outros campos. Muita coisa coisa já saturou', afirma Roberto Braga, da Siemens. Engenheiro elétrico especializado em biotecnologia, ele diz que vem se dedicando ao estudo da área médica, principalmente da gestão em saúde.
A Siemens, assim como outras gigantes de tecnologia, vem investindo na produção de equipamentos eletromédicos. 'Uma das minhas tarefas é estudar as necessidades da comunidade cientifica local', observa. Ele também coordena treinamento de médicos em tecnologia. E ele faz um alerta aos médicos. 'Tenho procurado médicos para trabalhar na área de tecnologia. E isso é uma tendência mundial. No mundo inteiro ocorreu assim', diz Braga. 'Uma empresa de tecnologia não vive só de engenheiros.' Ele conta que também é preciso investir na formação de biotécnicos.
O professor Flávio Dantas, titular da cadeira de Ética da Universidade Federal de Uberlândia, lembra que, além dos avanços da telemedicina, é importante para o profissional que pretende trabalhar na área da saúde entender o quanto o Brasil mudou seu perfil em termos de saúde. 'Saímos do padrão de doenças transmissíveis para as degenerativas crônicas. Vamos precisar de médicos que saibam entender e cuidar bem do envelhecimento e isso inclui pesquisar agravos evitáveis, estímulo de bons hábitos', explica. 'Nunca houve tanto interesse dos jovens pela genética como hoje. Temos décadas de pesquisa pela frente, para estudarmos plantas e organismos', observa a bióloga Mayana Zatz. 'Será possível passar décadas inteiras estudando. Cada pesquisador poderá optar por um grupo de genes, doenças, plantas', diz ela, ao comentar o campo que surgiu após o seqüenciamento do genoma.
Seu trabalho de decodificação de genes atuantes em doenças neuromusculares - no Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) - conquistou, em 2001, o prêmio concedido pela L´Oreal e Unesco para uma cientista de cada continente.

(O Estado de S.Paulo-14/03/05)

Um comentário:

  1. O assunto é pertinente e relevante.
    Exatamente por isto as nossas autoridades ja deveriam estar criando, reconhecendo e normatizando a especialidade do médico que se dedica à tecnologia da informação em saúde.
    O fato dela não existir já está criando uma série de problemas.
    Leonardo

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