" "Quanto mais a esfera de aplicação se torna racionalizada, mais o exercício de julgamento associado à experiência prática no sentido próprio do termo, deixa de ocorrer"
Isso explica muito da tecnologização de medicina e de sua "impessoalização". Não queremos mais médicos idiossincrásicos, individualistas, artistas de suas especialidades. Queremos opiniões uniformes, alinhadas com as últimas "notícias" produzidas pela literatura científica, a última "moda" em exames de imagem, etc. Os médicos também se acostumam a guidelines, diretrizes, algoritmos de conduta e terminam por pensar que essa é a única racionalidade correta da medicina. Há um imperativo ético na conduta de um médico. Ele tem que possibilitar o que há de melhor para seus pacientes. Sempre. A questão é saber se a Ciência Médica é a única capaz de julgar a eticidade dessa conduta ou se há outras formas de fazê-lo. Se a racionalidade clássica que é quem provoca essa tensão tem alguma alternativa (Cronje, 2003). E somos então remetidos à Ética da Crença. Mas isso é outra história e será um outro post, espero."
Fonte: ecce medicus
Recomendo também a leitura da série:
- Metafísica Médica III: processo de raciocínio baseado em eventos (Hume, Mill, inferência estatística)
- Metafísica Médica II: agentes trombolíticos e o IAM
- Metafísica Médica: medicina baseada em evidências
O Ecce Medicus surgiu da necessidade de uma reflexão mais aprofundada da prática médica. Acredito que a Medicina passa por uma profunda crise. Uma crise num produto científico-cultural como é a Medicina, sempre se manifesta sob várias perspectivas, e nunca vem isolada.
Fazem parte:
- o esgotamento ético que tem por base o próprio médico,
- o paciente e tudo que gira em torno dessa relação como grandes conglomerados farmacêuticos,
- fornecedores de materiais médico-cirúrgicos, convênios e seguradoras de saúde, instituições hospitalares e acadêmicas,
- políticas de saúde nos diferentes países e culturas do planeta.
- A tecnologização da prática médica e a quase impossibilidade de percepção desse fenômeno pelo médico comum.
- A redução da ciência médica à tecnologia e seus derivados imediatos tendo como consequência mais grave, a constituição contemporânea do conceito de doença pela tecnologia ela mesma, entre outros tantos problemas.
É a autópsia desse pensamento técnico e moral do médico contemporâneo que me interessa. Seu pequeno mundo, suas certezas, seus deslizes, suas angústias, são o material que servirá de objeto aos propósitos desse weblog. Para que se possa contribuir com um conhecimento - não como um pacote pronto, mais que isso - um projeto sempre inacabado - de como um médico se torna o que é, nos dias de hoje. Eis o médico, pois. Ecce Medicus
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