Por Luciana Alves
Frida Kahlo não foi médica, ainda que isto tenha feito parte de seus planos de vida. A pintora, famosa por seus quadros, retratou vários de seus problemas de saúde. Na medicina não raramente é mencionada por aqueles que se interessam pela psicossomática como um exemplo de alguém que transformou a dor pela arte.
Mas a Frida era antes uma paciente, e certa vez, declarou ela: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o tema que conheço melhor". Frida não digitou seus dados em nenhum sistema eletrônico de saúde. Não utilizou nenhum aplicativo ou software de imagem menos sofisticado do que si mesma. Frida ao menos pediu permissão, para pintar seu prontuário médico. Seu prontuário médico era a sua pintura.
Frida pode ter enunciado esta frase mais como paciente, do que como artista. Como ela mesma afirmou: “sou o tema que conheço melhor”. Frida conseguia dizer sem uma palavra onde estava a incisão, onde doía, sua condição emocional e a percepção de si mesma frente aos seus problemas de saúde. Na verdade, quem conhece a obra de Frida percebe que, no seu “prontuário”, não faltava nenhuma informação e não havia rasuras.
A revolução tecnológica permitiu a coexistência de um novo tipo de paciente, o e-paciente, aquele que acessa informação de saúde, que consome aplicativos voltados para o cuidado da saúde, e que troca informações com outros pacientes sobre sua condição médica.
Vimos discutindo atualmente sobre a importância do uso de padrões para o desenvolvimento de sistemas de informações voltados para saúde, e sobre como realizar a troca de informações, gerenciamento e integração entre sistemas de informações na saúde.
E apesar do meu grande fascínio pelas tecnologias eu não consigo deixar de pensar se realmente estamos trabalhando para “criar sistemas” de comunicação entre os profissionais de saúde e esta nova categoria de pacientes, que possam refletir para uma maior qualidade do dado que irá alimentar esta este sistema durante a integração e interoperabilidade de informações dos dados em saúde.
O dado pelo paciente, o dado da perspectiva do paciente. A minha perspectiva do dado de Frida Kahlo.
Neuropsicóloga, Mestre e Doutora em Ciências da Saúde, Pós-doutoranda no ICB-UFMG com temática relacionada à Infoveillance & Infodemiology – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue. É professora de Informática em Saúde, e preside a empresa Bionics Health Technology.
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