27 de jun. de 2014

O lado humano dos biossensores e wearable technologies

Do blog AI, por Fabrício Teixeira, trago uma postagem muito interessante sobre o excesso de informações que os biossensores nas tecnologias vestíveis trazem e o questionamento sobre se isso é benéfico ou não.
biosensors_wearables
Temos falado aqui no blog sobre as tecnologias vestíveis (wearable technologies) e sobre o desafio de desenhar interações entre pessoas e interfaces que são usadas em objetos do cotidiano e, muitas vezes, no próprio corpo humano. Uma tendência que tomou força lá em 2012, quando o Nike Fuelband ajudou a popularizar a ideia de “tecnologias de vestir”.
Do outro lado do espectro estão os biossensores: tecnologias que convertem sinais do corpo em informações que sejam “entendíveis” tanto por computadores quanto por humanos.
O slide abaixo, retirado de um relatório da RockHealth sobre o assunto, mostra algumas marcas e produtos que já estão utilizando esses sensores para prover algum serviço aos usuários.
biossensores
Alguns sensores mais populares (movimento, batimentos cardíacos, sono) são encontrados em um maior número de dispositivos, como o Nike Fuelband, o Samsung S-Health ou o Amiigo. Outros biossensores ainda são pouco explorados (nível de oxigênio, pressão sanguínea, hidratação), mas cada vez mais surgem novos produtos e serviços que fazem uso da possibilidade de mensurar esses dados.
O que isso tudo tem a ver com o seu trabalho?

Bom, se você trabalha com UX você provavelmente desenha aplicativos para smartphones como iOS ou Android. Aos poucos as novas versões desses dispositivos estão começando a adquirir novos sensores (exemplos incluem o leitor de impressão digital do iPhone ou o sensor de batimentos cardíacos do Galaxy S5) – e a tendência é que a cada versão futura desses celulares novos biossensores entrem no caminho de serem popularizados. E usados, é claro, pelos aplicativos que moram nesses smartphones. Google, Apple e Samsung inclusive já anunciaram suas plataformas de “saúde” que começarão a vir embarcadas em seus produtos (Google Fit, Apple Health e Samsung S-Health) ainda esse ano.

Conhecer essas tecnologias e o que é possível fazer com elas é essencial para nós, designers e tecnólogos que querem construir serviços inovadores e subir a barra do que é possível fazer com tecnologia. Mas mais importante do que a tecnologia em si, para UX designers, é entender como as pessoas se relacionam com as informações fornecidas por esses sensores. Hoje em dia fala-se muito em Behavior Change e como esses sensores podem ajudar as pessoas a terem uma vida mais saudável, ou mais ativa, ou mais consciente, por exemplo.
owlet_baby_care
Aqui vai um exemplo recente. Um dos serviços lançados pela R/GA em seu programa de aceleradora de startups foi um sensor em formato de bota ortopédica que permite aos pais monitorarem vários aspectos da saúde do bebê, como temperatura, movimento, batimentos cardíacos, entre outros. Uma espécie de “babá eletrônica 2.0″ que dá aos pais muito mais informações sobre as atividades do recém-nascido. Através do smartphone, os pais têm acesso a um painel onde essas informações são mostradas em tempo real.

Mas nos primeiros testes com usuários feitos durante o processo de desenhar o aplicativo, um comportamento digno de alerta: quanto mais detalhes os pais sabem sobre a saúde do bebê, mais preocupados ficam. E em um processo que já é naturalmente estressante para eles (os primeiros meses de vida do bebê), isso pode representar uma experiência de uso negativa e sobrecarregada.

O fato de o aplicativo fornecer informações detalhadas sobre a temperatura do bebê minuto a minuto fazia com que os pais passassem a se preocupar em excesso com isso. Qualquer oscilação de alguns graus na temperatura ou desvio dos padrões já os deixavam preocupados e eles passavam a considerar levar o bebê ao médico imediatamente.

sensor
Informações detalhadas podem ser úteis em determinados momentos, mas completamente desnecessárias em outros. No fim das contas, o que se aprendeu aqui após pesquisa com os pais é que uma interface simplificada que desse apenas uma “visão geral” do status do bebê os deixava muito mais à vontade para curtir a “arte” de serem pais – e não ficarem se preocupando com cada mínimo detalhe. Menos números, mais cores e ícones. O aplicativo continua mensurando tudo, nos mínimos detalhes; mas só quem tem acesso a esse report detalhado é o pediatra, não os pais no dia-a-dia do trato com o bebê.

Com a popularização desses biossensores, as possibilidades continuarão aumentando. Em pouco tempo será possível saber todos os detalhes sobre sua própria saúde (fisiológica, mental, social) diretamente na tela do seu celular, em tempo real e quem sabe até em tempo futuro. Mas com grande poder vêm as grandes responsabilidades. Dar acesso a dados é bem diferente de criar vícios em torno deles. Não se deixar seduzir pela tecnologia e lembrar sempre do lado humano do design também é tarefa sua, UX Designer.

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