27 de fev. de 2014

coNETções neurológicas

Por Luciana Alves PhD

Não se pode dizer que a invenção da World Wide Web, o famoso WWW, foi o que primeiro marcou as nossas experiências e desejos por diversões mais velozes e por marcante aceleramento da forma como vivemos. Na verdade, constitui uma continuidade das tendências às mídias elétricas que despontaram no século XX. Entretanto, sem dúvida, consiste na forma mais radical de experiência entre as mídias.

O impacto da evolução resultou entre outras coisas na capacidade de interagirmos com um sistema que permite atividades multitarefa. Os computadores e suas janelas (ou as abas) fez com que nossa percepção se tornasse um exímio malabarista em saltar de uma janela a outra, e a mais outra, e a mais outra.

A internet se tornou uma forma de moldar a mente humana. Qual o seu impacto sobre nossa cognição? Usamos a ferramenta e somos modificadas por ela como? Em diferentes áreas de pesquisa sobre o assunto, envolvendo a psicologia, neurobiologia, educação e web afins, estes têm sido unânimes em concluir algo em comum: estar on-line aumenta as chances de que estejamos, durante esta imersão, realizando uma leitura marcada pela superficialidade, rapidez, desatenção, e com poucos efeitos duradouros para aprendizagem.

Em se tratando do que conhecemos sobre plasticidade cerebral, a invenção de um sistema que pudesse refazer nossos circuitos cerebrais resultaria em algo exatamente como a internet, e isso porque há um uso regular da ferramenta. Somo expostos a estímulos sensoriais e cognitivos de forma repetitiva. A prática nos leva a um aprimoramento do uso com consequente aumento da velocidade e destreza no manuseio dos dispositivos. Pense em quantas ações desempenhamos, como digitar com os polegares, utilizar a função touch, rolar a barra de rolagem. Pare e pense.

Enquanto executamos automaticamente tantas ações físicas, nosso córtex visual, somatossensorial e auditivo é bombardeado por um fluxo contínuo e quase infindável de estímulos. Apenas o sentido do olfato e paladar ainda não são impactados pela experiência.

Com a possibilidade de navegar de forma rápida, a Net é uma fonte de “reforço positivo” na medida que nos oferece respostas e recompensas na experiência de imersão. Fácil perceber isso, afinal, vocês acham que a ferramenta “Curtir” no Facebook funciona como o que? Consegue parar e lembrar sua sensação ao ter seu post “curtido”? Como se sente? E quando recebe a resposta imediata a um e-mail importante? Não é bom? Sente-se aliviado? Quando alcança mais amigos no Facebook, mais seguidores no Twitter, como se sente?

A experiência na internet nos possibilita passar por uma experiência altamente recompensadora, com um poder incrível de nos manter conectados a ela pois carrega inerentemente o poder de recompensar, gratificar, nos reforçar positivamente. Já pensou na experiência de imersão na Web desta forma? Em como ela impacta para o que acontece no cérebro?

Quando estamos online deixamos de realizar outras tarefas que também têm consequências neurológicas. Se realizamos novas conexões a partir da experiência com a ferramenta da web, outras conexões anteriormente estabelecidas se enfraquecem, e enquanto novos circuitos se formam, outros vão perdendo a força e o cérebro recicla os neurônios e sinapses em detrimento de outras prioridades. 
De acordo com Dr. Garry Small, um estudioso do impacto das mídias digitais sobre o nosso cérebro, as mesmas estão alterando de forma importante a forma como vivemos, nos comunicamos, e profundamente nossos cérebros.

Alguns resultados de estudos realizados com usuários do Google, demonstraram que aqueles mais experientes apresentavam amplas áreas do cérebro com atividade em relação àqueles menos experientes. Aqueles com maior domínio computacional apresentavam a parte frontal esquerda do cérebro (córtex dorsolateral pré-frontal) em atividade intensa em detrimento dos menos experientes. Após os cientistas submeterem os “menos experientes” a uma experiência diária na internet, os mesmos foram testados novamente e aquelas áreas antes sem nenhuma ou pouquíssima ativação passaram a exibir grande atividade.

Em outro estudo, os pesquisadores descobriram que navegar na internet e ler um livro apresenta padrões de atividade diferentes entre si. Em leitores de livro, as áreas ativadas são aquelas associadas com a linguagem, memória e processamento visual. Em usuários experientes da internet as áreas ativadas são as encontradas em leitores, mais as regiões pré-frontais, que estão associadas à tomada de decisões e resolução de problemas.

Uau! Que boa notícia! A princípio sim, e idosos podem se beneficiar bastante desta atividade que trabalha tantas funções cerebrais. Mas pelo mesmo motivo, isto torna compreensível porque é tão difícil se realizar uma leitura mais aprofundada de algo, e concentrar de forma continuada. As inúmeras distrações a que somos submetidos na navegação na NET reduz significativamente nossa capacidade de realizar conexões mentais ricas, que por sua vez estão sendo deixadas de ser usadas em grande proporção.

A superficialidade da experiência com a informação tem implicações importantes para a memória de longo prazo e impacta para o aprendizado. A informação que nos chega “carga cognitiva” ultrapassa sua capacidade de processamento, e o resultado é a incapacidade de armazenar a informação na memória de longo prazo.

A sobrecarga à nossa memória de trabalho imputada pela forma como vimos interagido com a internet tem um preço para nossa cognição. Os Bits estão sobrecarregando nossa memória de trabalho, e enquanto algumas coNETções cognitivas estão sendo realizadas, outras conexões anteriormente estabelecidas estão morrendo.

Agora vou voltar à minha ginástica cerebral. Vou ler um livro aqui.

Confira no meu canal do YouTube: How Google is Reshaping Your Brain

Luciana Alves é Neuropsicóloga, Mestre e Doutora em Ciências da Saúde, e faz Residência Pós-doutoral no Instituto de Ciências Biológicas - UFMG, com temática relacionada à Infoveillance & Infodemiology, junto ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue. Ministra curso com temática relacionada com Informática em Saúde, coordena, como colaboradora, uma linha de pesquisa em Mobilidade em Saúde e Segurança da informação no np-Infosaude – UFMG. Fundou e Lidera uma atividade de cunho social denominada PACEMAKERusers.com, e é CEO - Chief Executive Officer na Bionics Health and Technology
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24 de fev. de 2014

Sites de avaliação e classificação de médicos

Nos EUA, sites de avaliação de médicos estão se tornando tanto fonte de consulta para se escolher um profissional, quanto um local para postar comentários, muitas vezes anonimamente, sobre eles. ZocDoc, RateMD, Vitals, Heatthgrades são alguns exemplos de sites onde os médicos podem ser localizados, consultas marcadas online e avaliados. Mas os opiniões divergem bastante tanto entre os pacientes quanto entre os médicos.



Além de queixas de usuários que referem inconsistências de horários na agenda divulgada no site - maioria deles fazem marcações de consultas online - há também reclamações dos mesmos sobre a impossibilidade de publicar reviews negativas, o que obviamente deva-se a uma política dos sites e dos próprios médicos. Muitos pacientes desejam fazer as reviews anonimamente, mas a maioria dos serviços só permitem usuários cadastrados que usaram o serviço avaliem seus prestadores.

Um estudo publicando na JAMA em Fevereiro revela que 23% dos entrevistados usaram sites de avaliação médica para escolher seus cuidadores e 33% dos que não usaram disseram não o fazer por não confiar nas avaliações, já que o processo de classificação e avaliação não é transparente.


Opiniões desfavoráveis a esse tipo de serviço apontam que os médicos não devem ser sujeitos a esse tipo de avaliação, como outras commodities, como restaurantes e hotéis, pois o fato de não concordar com a conduta médica em uma consulta pode ser motivo de uma avaliação ruim. 

No Brasil, temos algo semelhante, o iMeds, que é uma comunidade médica onde o profissional pode ter uma página pessoal para ser localizado e avaliado. No cadastro, há uma opção "permitir ser avaliado", mas ainda não vi como essa avaliação é feita. Entendo que esse serviço aqui no Brasil não vá prosperar pois a aversão e resistência da classe médica à tecnologia ainda é muito grande. Vários projetos de marcação de agendas online independentes não obtiveram êxito, com exceção dos serviços oferecidos pelas operadoras de saúde, como o da Unimed BH. Mas no caso de eu estar errada, no site InformationWeek há 6 estratégias médicas para avaliações online.

Sites de avaliação e classificação de médicos é um post original do TI Medicina. Quando copiá-lo, adicionar os devidos créditos.

22 de fev. de 2014

Sorteio de promocodes do app P-Med para cálculo de preços de procedimentos médicos


Quer ganhar um aplicativo que mostra os preços de endoscopias, procedimentos cirúrgicos pela tabela AMB, CBHPM 5 ou 12 edição, quanto ganha os auxiliares e o anestesistas.

Vamos sortear 5 promocodes do aplicativo médico P-MED para preços de procedimentos médicos.

Para participar:


O sorteio será realizado no dia 28/01/14.

21 de fev. de 2014

Aplicativos Médicos: app pMed para calcular preços de procedimentos médicos - Android e iOS


 Calcular o preço de procedimentos médicos ficou simples e rápido com o PMED (iOS e Android), um app que dispões de mais de 25000 procedimentos comparados e precificados.

O aplicativo é dividido em Busca, Grupos, favoritos, Índices e Tabelas. Na imagem abaixo observamos a tela busca, onde foi digitado "retossig"com os seguintes códigos disponíveis:

Na parte inferior da tela podemos facilmente trocar de tabela de referência, onde C3 é a CBHPM 
3ª edição e assim por diante. As pesquisas podem ser realizadas pelo código do procedimento ou pelo nome, nas diferentes tabelas AMB, C3, c4, c5, TUSS e C12.

O aplicativo utiliza os parâmetros adotados pela AMB e CFM como: CH, FILME, CO, PORTE e PORTE ANESTESICO, considerando inclusive o número de auxiliares e anestesistas no preço total do procedimento.
Na imagem abaixo vemos o procedimento 43.03.025-4 Retossigmoicetomia abdominal.

tela do procedimento retossigmoidectomia abdominal

NA segunda aba Grupos, é possível pesquisar o procedimento por grupo de especialidade.


Na aba Índices, o valor do porte de acordo com a edição da CBHPM é discriminado.
Um aplicativo médico muito interessante tanto para profissionais de saúde quanto para prestadores, faturistas, auditores e operadoras de saúde.

App P-Med
Idioma: português




Aplicativos Médicos: app pMed para calcular preços de procedimentos médicos - Android e iOS é um post original do TI Medicina. Quando copiá-lo, adicionar os devidos créditos.

17 de fev. de 2014

iWatch da Apple poderá monitorar dados de saúde

O iWatch, projeto de relógio inteligente da Apple que, segundo relatos, já emprega mais de cem pessoas, parece estar entrando numa nova fase. Há boas chances de que o relógio seja lançado no segundo semestre, junto com o novo app de saúde e condicionamento físico Healthbook, app para  monitorar a saúde e os exercícios da pessoa e manter registros de atividades, segundo a revista Exame.

Com base nas contratações da Apple para o projeto, como Michael O’Reilly, ex-diretor médico da Masimo (empresa que fabrica um oxímetro de dedo para iPhone), Jay Blahnik (atuou no desenvolvimento da Nike Fuelband),  Marcelo Lamego, diretor de tecnologia da Cercacor e trabalhou também na Masimo (trabalhou em patentes de dispositivos de monitoramento de pacientes), além de encontros dos diretores da Apple com FDA, podemos supor que o iWatch poderá ter funções de monitoramento de saúde. Prever um relógio que meça saturação de oxigênio, níveis de glicose, além de frequência cardíaca e atividade física em um futuro próximo é uma realidade bem plausível e muito bem vinda.

Há vários conceitos de design para o iWatch, mas o protótipo ainda não foi divulgado.
Yanko design

Venestudio

Federico Ciccarese

Jivaldi team




11 de fev. de 2014

Hemostasia em 15 segundos para ferimentos por arma de fogo

XStat Rapid Hemostasis System for Gunshot Wounds

O dispositivo XStat funciona como uma seringa que esponjas médicas revestidas de agentes hemostáticos - em formato de comprimidos - que se expandem em contato com o sangue, propiciando a hemostasia. Possuem marcador radiopaco para facilitar a remoção posterior.
Vem em duas espessuras diferentes: 30 mm e 12 mm. 


Atenção: O blog TI Medicina não vende produtos! Interessado no produto? Acesse o link:
http://www.revmedx.com/#!xstat-dressing/c2500

9 de fev. de 2014

Em busca do Hospital Digital

Palestra gravada no IV Ciclo de Seminários On-Line de Tecnologias de Informação em Saúde, promovida pela Diretoria de Educação e Capacitação Profissional em Informática em Saúde da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), pelo Dr. Cláudio Gluliiano Alves da Costa, em 2013.

5 de fev. de 2014

TELESSAÚDE - As dificuldades para uma boa comunicação entre as partes (parte 2)

por Eduardo Guagliardi

Como havia referido no primeiro post desta série, meu primeiro compromisso como teleconsultor em saúde mental pelo NUTES UFPE era estruturar uma entrevista padronizada que pudesse ser utilizada pelos clínicos, ao encaminharem suas solicitações de consultoria em saúde mental. O NUTES já havia percebido que as comunicações entre clínicos e especialistas podiam se dar de uma forma mais clara e organizada. Mas as dificuldades para se chegar a isso são muitas e, até este momento, as solicitações são ainda feitas através de um email simples, onde o clínico expõe livremente sua dúvida ou expõe o caso. É de interesse de qualquer serviço de telessaúde, em qualquer lugar do mundo, poder constituir um banco de dados a partir das solicitações de consultorias recebidas e das respostas dadas, dando acesso à pesquisadores mediante material organizado e facilmente recuperável. Se assim não for, estaremos usando apenas metade do que as tecnologias podem nos proporcionar.

Na verdade, profissionais de saúde, seja pela formação que recebem, seja pela forma como ainda estão organizados os serviços, não estão muito habituados a trabalharem com formulários padronizados, sistemas informatizados e coisas do gênero. É natural que aquilo que seja básico para qualquer procedimento de telessaúde - como a solicitação de uma consultoria - ainda esbarre em vícios ou hábitos entranhados em épocas anteriores à nossa era digital. Um profissional de saúde "não alfabetizado digitalmente" tenderá a ver com naturalidade um pedido informal de teleconsultoria e poderá ter muita resistência para aderir a qualquer tipo de formulário padronizado a ser preenchido e enviado pelo computador.

Na área "psi", sobretudo nos serviços públicos de saúde mental deste país, onde predomina entre os profissionais a visão da chamada "Reforma Psiquiátrica" que tende a hiper-valorizar o contexto de vida do sujeito, existe uma grande tendência para o que poderíamos chamar de "subjetivação plena das análises e dos processos". Esta subjetivação se estende inevitavelmente aos registros de atendimentos que são feitos de uma tal maneira que, muitas vezes, dados fundamentais para o diagnóstico médico são colocados em segundo plano. Estes registros "à mão livre", como sempre ocorre nestes casos, geram dados que serão praticamente irrecuperáveis e que estarão perdidos para sempre pelos sistemas de informação. Os Centros de Atenção Psico-social, baluartes da "Reforma Psiquiátrica", espalhados por todo o país, estão abarrotados de pilhas e pilhas de prontuários escritos à mão que com muita dificuldade poderão ser consultados e pesquisados, numa curiosa prova de que a importância do sujeito e de sua singularidade não levou, até o momento, estes serviços a darem melhor destino e trato aos documentos destas pessoas (nunca sendo demais lembrar que o prontuário é do paciente, não do médico, nem do serviço). Trata-se de um problema que, na verdade, tem origem na própria formação destes profissionais, e que mais tarde se agrava nos serviços - especialmente nos da rede pública - onde a informatização limita-se à algumas planilhas preenchidas pelos gestores e passa longe das salas de atendimento.

O panorama da área de saúde, tanto pelo lado de quem faz a solicitação de teleconsultoria como pelo lado de quem a recebe é este então, em resumo: profissionais e serviços ainda não inteiramente preparados para lidarem com as novas tecnologias e seus pressupostos.


Mas como então conseguiremos superar esses velhos vícios e hábitos, indo além de relatos puramente subjetivos e conseguindo adotar protocolos para uma rápida e objetiva descrição de caso, reconhecendo sinais e sintomas de algum transtorno mental? E como fazer com que um clínico sem treinamento específico na área consiga, ao registrar um determinado atendimento, fazer-se entender por um psiquiatra? Como construir um instrumento que, mesmo tendo que ser utilizado por computador, não represente uma dificuldade nem levante resistências em profissionais pouco habituados às tecnologias?

Interessante lembrar que telessaúde e telemedicina no Brasil são conceitos e iniciativas que, até o momento, não cruzaram as fronteiras dos meios acadêmicos e oficiais, não tendo assim alcançado as leis do mercado. Nos EUA, por exemplo, já existem vários serviços particulares de telepsiquiatria que oferecem consultoria (paga) em diversas áreas para escolas, hospitais, cidades e cidadãos. É de se supor que a concorrência entre estes serviços tenha contribuído para o desenvolvimento de plataformas e tenha ajudado aos órgãos reguladores no estabelecimento de diretrizes e parâmetros. No Brasil, a opção foi por simplesmente vedar (ou dificultar) ao médico o uso deste recurso tecnológico, fora dos limites oficiais ou acadêmicos. 

Como se sabe, vários estados brasileiros já têm seu núcleo de telessaúde e alguns já se destacam com boas plataformas. Embora não seja assumido abertamente, alguns destes serviços oficiais competem entre si, no afã de terem sua plataforma como a oficialmente escolhida para ser o modelo adotado nacionalmente. Este "mercado paralelo" é tão parecido com o mercado convencional que quem trabalha num núcleo dificilmente tem acesso e conhece em detalhes como funciona a plataforma do outro estado - segredos industriais. É de se perguntar se o desenvolvimento do setor de telessaúde e telemedicina no país não ganharia mais se houvessem regras menos rígidas e houvesse mais abertura para a participação de empresas, lado a lado das universidades e governo...

De qualquer modo, considerando-se o contexto brasileiro da telessaude, está claro que a construção de instrumentos como entrevistas padronizadas impõe a observância de critérios bem estabelecidos e aceitos, academicamente falando. Por outro lado, em se tratando de um instrumento que será utilizado por não especialistas e, partindo-se da ideia de que seja algo para facilitar-lhes a vida, deveríamos ter em mente evitar aquilo que nem sempre o mundo acadêmico consegue evitar: seus preciosismos. Na prática, o instrumento deveria então ser um meio termo entre aquilo que é aceito cientificamente (ou que, ao menos, não se contrapõe ao consenso na área) e aquilo que é prático, corriqueiro e reconhecível pelos profissionais que estão atuando na linha de frente dos serviços públicos.

Com tudo isto em mente, apresentei recentemente ao NUTES uma proposta de um formulário para solicitações de consultorias, que ainda está sendo analisada. Com poucos campos para serem assinalados e respondidos objetivamente, este formulário tentaria dar conta ao menos dos principais e mais graves transtornos mentais. Sua preocupação seria fazer com que o clínico não deixasse de informar pontos importantes para o diagnóstico e tratamento da condição. Um exemplo seria a informação de internações psiquiátricas prévias ou de tentativas de suicídio. Para o psiquiatra consultor certamente estes seriam eventos relevantes e onde a informação inclusive da data em que ocorreram seria igualmente importante. Importante salientar que, dependendo da orientação do pesquisador ou gestor quanto à concepções do que vem a ser um transtorno mental, um simples formulário de solicitação como este pode apresentar ou omitir perguntas. Profissionais simpáticos à chamada "Reforma Psiquiátrica", como já referimos no início deste texto, tenderiam a hipervalorizar informações dos aspectos sociais e familiares, em detrimento de informações clínicas ou relacionadas à tratamentos medicamentosos, enquanto profissionais da "linha biológica" tenderiam a deixar de lado dados referentes à vida diária do paciente, suas relações de trabalho, familiares etc.

Como se vê, um simples formulário de solicitação de teleconsultoria na área da saúde mental pode levantar inúmeras questões, de diferentes ordens e aspectos. De modo nenhum se trata de um mero formulário... e não pode ser tratado assim. Talvez por isso mesmo se entenda o fato de que, até hoje, nenhum serviço, ao que se saiba, tenha "comprado esta briga" e a levado até o final. Quem disse que os caminhos da telessaúde e da telemedicina no país são fáceis e já estão todos abertos?

Eduardo Guagliardi é médico psiquiatra, formado em 1986 pela UFRJ. Já viveu e trabalhou em vários estados brasileiros, sempre atuando na rede pública e privada. Atualmente é aluno do curso de especialização em Informática em Saúde (UAB-UNIFESP). Escreve regularmente e mantém dois blogs (http://e-saudemental.com e http://edmedandtech.wordpress.com ) além de fazer a curadoria dos temas “saúde mental e tecnologias” e “educação médica e tecnologias” em páginas do Facebook (https://www.facebook.com/esaudementalhttp://bit.ly/edmedandtech) e Scoop.it! (http://www.scoop.it/t/pensa-tics http://www.scoop.it/t/edmedandtech). Está no Twitter: @e_saudemental





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Reflexões, propostas e experiências sobre a telepsiquiatria I

3 de fev. de 2014

A utilização do Google Helpouts na área da saúde

Por Luciana Alves PhD
Desde o Google Health, descontinuado em 2011, o Google certamente percorreu um longo caminho no que diz respeito às exigências da HIPAA.

No início de novembro de 2013 o Google lançou uma nova ferramenta que permite a conexão entre usuários e especialistas de diversos segmentos, por meio de vídeo interativo, em tempo real, para aconselhamento em diversos temas.

A aparência do Helpouts é bem parecida com a personalizada do Google+. Cada especialista possui uma página na qual os usuários podem realizar o agendamento. O usuário deverá se identificar a partir do seu perfil público no Google+, desta forma, a identificação é possível, entretanto sem figurar publicamente no Google+. Na área da saúde as políticas aplicáveis podem se diferir pois nela o Google adota políticas mais rígidas relacionas à identidade e à privacidade do usuário.

No segmento saúde, no Google Helpouts, os pacientes podem obter dicas médicas gerais e conselhos de especialistas. Mas com essa tecnologia vem a questão da privacidade e de segurança atrelados à telemedicina por anos.

No uso do serviço o profissional de saúde se apresenta como um coadjuvante no processo de cuidados primários. Ele informa que podem ser discutidas questões médicas, uso de medicamentos e dicas em saúde, entretanto deixa explícito que a consulta virtual não substitui o aconselhamento do profissional ou equipe de cuidados primários responsável pelo cuidado do paciente, também alerta que não haverá solicitações de exames ou prescrição de medicamentos. O médico deixa claro que ele não está assumindo a responsabilidade pelo paciente, apenas oferecendo conselhos de medicina geral.

Os especialistas que usarem o Google Helpouts podem cobrar uma taxa fixa ou por minuto, ficando com 80% do lucro, e os outros 20% são do Google. A garantia da segurança dos dados dos usuários constitui uma das principais prioridades.

De acordo com o explicitado na sessão Health services & HIPAA sobre a segurança dos dados em saúde:
Ensuring that our users’ data is safe, secure and always available to them is one of our top priorities. For providers who are subject to the requirements of the Health Insurance Portability and Accountability Act (HIPAA), Helpouts can also support HIPAA compliance. Under HIPAA, certain information about a person’s health or health care services is classified as Protected Health Information (PHI). Helpouts providers who are subject to HIPAA and wish to use Helpouts with PHI must enter into a Business Associate Agreement (BAA) with Google. Helpouts providers can enter into a BAA with Google when they create a listing on Helpouts.  The BAA must be entered into before those individuals identifying themselves as covered entities can provide services over Helpouts. Helpouts providers are responsible for determining whether they are subject to HIPAA requirements and whether they use or intend to use Helpouts in connection with PHI. Users who have not entered into a BAA with Google must not use Helpouts or other Google services in connection with PHI.

O Helpouts está disponível apenas via web e Android e estuda como lidar com as políticas da App Store da Apple.

O Serviço ainda não está disponível no Brasil mas a discussão sobre a segurança das informações em saúde ganha mais um capítulo no cenário internacional.



Luciana Alves é Neuropsicóloga, Mestre e Doutora em Ciências da Saúde, e faz Residência Pós-doutoral no Instituto de Ciências Biológicas - UFMG, com temática relacionada à Infoveillance & Infodemiology, junto ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue. Ministra curso com temática relacionada com Informática em Saúde, coordena, como colaboradora, uma linha de pesquisa em Mobilidade em Saúde e Segurança da informação no np-Infosaude – UFMG. Fundou e Lidera uma atividade de cunho social denominada PACEMAKERusers.com, e é CEO - Chief Executive Officer na Bionics Health and Technology
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