2 de abr. de 2010

Diário de um médico da saúde da família


Por Eduardo B P Melo

Sou médico de saúde da família, nossa equipe é composta de 1 médico, 1 enfermeiro, 1 dentista, 1 técnico em enfermagem, 1 recepcionista e 10 ACFs (Agente comunitario da família). Trabalhamos de segunda a sexta feira nos turnos da manhã e tarde, 4h cada turno. No turno da tarde podemos sair um pouco mais cedo dependendo da procura por atendimento.
Normalmente são agendadas 16 consultas por turno mas esse número sempre é extrapolado, dependendo do dia. Temos uma agenda diferenciada para cada dia da semana ou mesmo para cada turno. Apenas o médico não cumpre rigorosamente a agenda pois tambem atendemos pequenas “urgências” e isso pode bagunçar totalmente a agenda.
Por exemplo: no dia programado para o atendimento de adultos, se chegar uma criança com febre ela é imediatamente atendida e pula na frente de todo mundo. Idosos, gestantes e crianças têm sempre prioridade, independente da agenda.
A visita domiciliar (Tenho duas agendas por semana) é unicamente para pacientes com dificuldade de locomoção até o PSF mas geralmente atendemos outros familiares que necessitem de alguma orientação. Vou sempre acompanhado do ACF responsável por aquela família. O familiar solicita ao ACF a visita e ela é realizada na próxima agenda disponível. Os mais graves têm prioridade. Vamos a pé e terminamos sendo conhecidos por todos os moradores. Quando fui trabalhar nessa comunidade fui avisado do risco de assalto ou abordagens indevidas pois havia ali próximo grupos de trafico de drogas. Até o momento nada disso aconteceu, trabalhamos sem medo e com o apoio da população.
Os ACFs são moradores da comunidade (É uma obrigação) e conhecem todos os residentes. Nas visitas domiciliares vemos a verdadeira amizade entre a população e esses abnegados servidores públicos. Quando tenho qualquer problema ou dúvida com relação a um determinado paciente, solicito a ajuda do ACF responsável por aquela família e imediatamente ele se desloca até a residência para resolver o que for preciso.
No PSF fazemos o acompanhamento de pacientes hipertensos e diabéticos, pre-natal, puericultura, clínica geral e pediatria, prevenção de cancer de colo uterino e mama, vacinação (No momento estamos na campanha do H1N1), triagem de pacientes para especialistas,etc. Temos uma farmácia básica para distribuição gratuita de medicamentos e ainda trabalhamos com aplicação de medicamentos injetáveis, curativos, retirada de pontos, etc.
Não posso falar por outros postos de atendimento básico a saude, falo apenas pelo meu. Não temos hierarquia, não existe chefia dentro do PSF, somos todos iguais independente de cada função, nos reportamos ao distrito responsável por todos os PSFs do bairro e esse por sua vez a secretaria de saude do município.
Ainda precisamos de muitas melhorias no atendimento ao usuário, no meu modo de ver as consultas especializadas ainda são problemáticas, alguns pacientes reclamam que são mal atendidos e fazem esse desabafo comigo. O município, o estado e o governo federal ainda devem muito a essa população tão carente de tudo.
Precisamos de uma medicina mais preventiva do que curativa. Saneamento básico, escolas, creches, ruas calçadas, etc. Sei que tudo é muito lento em nosso país, não podemos parar, devemos isso a nós mesmos.
Em tempo: Meu salário é pago quase integralmente pelo governo federal, apesar de ser médico concursado em meu município.

Um comentário:

  1. É isso aí;algumas coisas menos outras mais,no geral aqui é como lá.Só que 60% dos médicos do psf daqui,entre eles eu,são contratados pq quase ninguém quer ir;o dinheiro é pouco demais.

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