13 de ago. de 2011

O Fracasso/Sucesso de um Prontuário Eletrônico


Do blog Informática Médica no PSF, vem esse post muito interessante que fala sobre o que leva um prontuário eletrônico ser bem incorporado a um serviço e os fatores que levam ao seu fracasso.

"Uma noticia recente cita que a Reino Unido está cancelando um mega programa de Prontuário Eletrônico que ligaria todo o sistema de saúde do país. O governo já gastou bilhões de Libras no projeto. O objetivo era criar um banco de dados único de todos os pacientes. Agora cada serviço poderá escolher qual sistema irá usar. O artigo cita problemas de liderança e não ter consultado os profissionais que irão usar o sistema. Veja os artigos aqui e aqui.

A notícia é interessante para o Brasil pois o Ministério da Saúde está iniciando projetos parecidos como fornecer um Prontuário Eletrônico gratuito para os municípios (ver post anterior).

Particularmente o exemplo britânico me faz lembrar um caso contado por uma médica sobre um Prontuário Eletrônico que foi implantado em um hospital e foi odiado desde o porteiro até a diretoria. O sistema era muito demorado de usar e causava uma cascata de atrasos no atendimento. Há três dias, em uma reunião no meu trabalho, fiquei sabendo de uma reunião entre as gerentes e o secretário de saúde onde foi uma reclamação geral sobre o Prontuário Eletrônico. A informatização em geral pois era incompatível com as novas propostas de metas do governo. O secretário de saúde não estava sabendo de nada.

A literatura sobre informática médica (ou informática em saúde) tem muitos exemplos e informações sobre sucessos e fracassos de prontuários eletrônicos. No inicio da década de 90 o Partners HealthCare desenvolveu um dos primeiros Prontuários Eletrônicos para o Brigham and Women’s Hospital (BWH). Os médicos queixaram muito no inicio e demorou vários anos para entrar em operação. O sistema foi implantado em outros hospitais também com problemas. A “mudança de cultura” era um dos problemas principais. Por fim um médico atuou como chefe de projeto, sistemas pilotos foram usados para testes, e a implementação foi em fases. Todo o hospital acabou ajudando na implementação. A equipe de apoio estava sempre presente para ajudar os médicos. O trabalho foi tido como uma iniciativa dos médicos.

Em 2002, o Cedars-Sinai Medical Center cancelou o Prontuário Eletrônico que estava desenvolvendo. Um pequeno grupo de médicos protestou contra o uso obrigatório do sistema e reclamaram da demora no uso do sistema. O sistema foi cancelado após poucos meses de uso. As causas verdadeiras do fracasso não foram determinadas com certeza, podendo incluir falhas de comunicação entre a diretoria e os médicos (1).

Uma olhada em vários artigos que citam os fatores de sucesso mostra que as barreiras primárias para adoção de um Prontuário Eletrônico são os custos e resistência dos médicos. Os fatores podem ser divididos em liderança, infra-estrutura e fatores culturais. Vários estudos mostram que um programa e sucesso deve ser integrado na rotina diária dos médicos e usuários. A usabilidade e estilo da interface é importante pois para o usuário a interface é o sistema. A interface deve ser clara, sem detalhes desnecessários e interação consistente. Menus, gráficos e cores consistentes podem ajudar a ficar atrativo e simples de aprende e usar.

A lista de fatores de sucesso é grande:
  • Cultivar a aceitação dos usuários como consultar os usuários antes de implementar e participação de todos nas decisões
  • Pesquisar e conhecer experiências semelhantes de desenvolvimento- Consenso sobre a necessidade de um sistema e qual é o melho
  • Detalhar as especificações- Formação de um consenso sobre uma estratégia para os sistemas de informação ou um plano de migração e implementação
  • Priorização e direção da equipe de gerenciamento
  • Líder de projeto de tecnologia de informação e equipe competentes- Sistema intuitivo e testado que pode ser usado com pouco treino.
  • Os testes devem mostrar que o sistema funciona como projetado e produz o resultado esperado- Funciona melhor que o procedimento que substituiu
  • Ter um bom potencial de desenvolvimento
  • Demonstração do custo-benefício do prontuário eletrônico, mostrando que vai melhorar o serviço e a prática da medicina
  • Treinar os usuários e desenvolvedores- Educação e demonstração dos benefícios dos prontuáris eletrônico na melhoria do atendimento ao paciente
  • Trabalhar junto a organizações de padronização ou associações de classe para melhorar e expandir os padrões
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) iniciou trabalhos sobre o assunto, ainda engatinhando. Se der certo poderá ser fornecido um certificado para prontuários eletrônicos considerados adequados para atuar na Atenção Primária."


Leia também: 

Desafios na implantação de prontuários eletrônicos em instituições de Saúde

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