Cada vez mais frequentes entre colegas de equipe, plantão ou consultórios, escutamos conversas com onde temas como desejo de aposentadoria precoce, mudança de país ou carreira, até sintomas da síndrome do pânico no caminho para o trabalho. Muito pronunciadamente temos percebido isto de alguns anos para cá. Um fator que ainda não aparece nos estudos é a insatisfação com a política do Governo Federal em relação a nossa profissão! Atenção deve ser dada a sintomas como sarcasmo no tratamento com pacientes e colegas de trabalho, a impaciência e a baixa tolerância com erros ou ritmo de trabalho alheio; a irritabilidade também é corriqueira. Culpamos a vida corrida do médico, mas isso é patológico, é sintoma da Síndrome de Burnout.
A Síndrome de Burnout é consequente a prolongados níveis de estresse no trabalho e compreende exaustão emocional, distanciamento das relações pessoais e diminuição do sentimento de realização pessoal.
Ouvir de colegas e família que a Medicina ainda tem salários muito bons, que gastamos muito tempo, dinheiro, suor e lágrimas na nossa formação para desistirmos, que é só uma fase e que vai melhorar não ajuda nem um pouco. Os médicos estão insatisfeitos e sofrendo de burnout, mesmo sem o saberem.
Cerca de 40 a 60% dos Médicos apresentam níveis elevados de Burnout em qualquer fase da sua carreira profissional e os Médicos emergencistas são os mais afetados apresentando valores entre 46 a 93% segundo vários estudos. Ao contrário de outros trabalhadores, os Médicos, perante o sofrimento físico e emocional, muitas vezes não procuram ajuda, automedicam-se e, além disso negligenciam as suas necessidades quanto à saúde - 70% dos Médicos não fazem avaliações de rotina e 60% dos especialistas de Medicina Geral e Familiar não são acompanhados por um Médico. Por outro lado, a adesão dos mesmos ao tratamento prescrito pelos seus colegas é extremamente pobre, recusam, ignoram ou depreciam o seu próprio tratamento, o que contribui para uma perpetuação dos sintomas. (3)
Os 12 estágios de burnout:
- Necessidade de se afirmar – provar ser capaz de tudo, sempre;
- Dedicação intensificada – com predominância da necessidade de se fazer tudo sozinho;
- Descaso com as necessidades pessoais – comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido;
- Recalque de conflitos – o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;
- Reinterpretação dos valores – isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da auto-estima é o trabalho;
- Negação de problemas – nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
- Recolhimento – aversão a grupos, reuniões – comportamento anti-social.
- Mudanças evidentes de comportamento – perda do humor, não aceitação de comentários, que antes eram tidos como naturais.
- Despersonalização – ninguém parece ter valor, nem mesmo a pessoa afetada. A vida se restringe a atos mecânicos e distância do contato social – prefere e-mails e mensagens.
- Vazio interior – sensação de desgaste, tudo é difícil e complicado.
- Depressão – marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
- E, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência, e a ajuda médica e psicológica são urgentes.
Faça o teste para verificar se encontra-se em exaustão profissional:
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2008/08/05/ult4476u31.jhtm e
http://www.mindtools.com/pages/article/newTCS_08.htm
http://www.mindtools.com/pages/article/newTCS_08.htm
Tratar o Burnout apenas por um dos seus sintomas, por exemplo depressão, seria apenas paliativo, uma vez que os aspectos profissionais e organizativos presentes na síndrome estariam sendo ignorados. Deste modo, é preciso haver um diagnóstico preciso, bem quantificado, enquadrado no meio Médico a fim de pôr em prática estratégias de prevenção e intervenção e para que um tratamento mais efetivo seja ministrado. Mas o mais importante é procurar ajuda de um psiquiatra, e não optar com consultas de corredor com colegas ou a automedicação.
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