por Cylene Souza, especial para a revista Fornecedores Hospitalares |
06/05/2010 |
Avanços na área de imagem melhoraram a capacidade de identificar doenças, mas os equipamentos mais avançados tornaram a tarefa complexa |
Novos aplicativos, capacidade de realizar tarefas antes inimagináveis para o aparelho, tráfego de informações e melhor desempenho. Parece a descrição dos smartphones que, apoiados em software e tecnologias de hardware avançadas, transformaram o telefone num computador portátil. Mas não é. Todas estas características hoje são também realidade nos equipamentos de diagnóstico por imagem, de um simples ultrassom até o mais avançado PET-CT.
"As modalidades atendiam apenas uma patologia, mas hoje se difundem para outras especialidades. Os exames cardiológicos, por exemplo, podem ser feitos por tomógrafos, ultrassons ou ressonâncias magnéticas. Esta capilaridade é uma característica marcante trazida com o uso de software", constata o especialista de produto de Tomografia Computadorizada, Medicina Nuclear e Oncologia da Philips para a América Latina, Eduardo Cheade.
Com o aprimoramento do hardware, as empresas perceberam que os grandes volumes de imagens produzidas acabavam tornando o trabalho do radiologista mais complexo e, o que era um benefício, como o detalhamento e os novos ângulos, corria o risco de se tornar um problema, já que o tempo gasto com a análise dos exames seria muito maior e tornaria os negócios menos produtivos. "Assim como a Lei de Moore mostra que a cada ano a capacidade dos processadores dobra, a mesma coisa acontece com os equipamentos de diagnóstico por imagem. As máquinas geram muitos dados, que não se tornam informações antes de serem processados", avalia o gerente geral de marketing estratégico da Siemens, Reynaldo Goto.
Embora o trabalho com estas máquinas avançadas tenha ficado mais interessante para os profissionais, eles reconhecem a necessidade de auxílio. "Na maioria das vezes o médico até gosta muito de "brincar" de pós-processar, é um trabalho muito envolvente. Temos, no entanto, que considerar que as fontes pagadoras não remuneram pelo esforço extra. Muito deste trabalho terá que ser padronizado, transferido para técnicos ou mesmo automatizado, porque o tempo dos médicos é muito valioso", pondera o presidente da Comissão Científica da Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), Renato Adam Mendonça, que também é vice-Presidente de São Paulo do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
"A tecnologia ajuda e atrapalha. Ela trouxe diagnósticos que nós antes não fazíamos, como o de embolia pulmonar por meio de tomografia computadorizada, mas também criou um problema com o grande volume de imagens. Surgiram, por exemplo, mais falsos-positivos, porque o equipamento acaba identificando lesões que, do ponto de vista clínico são insignificantes. Por isso, o software e a experiência do radiologista são essenciais para analisar os dados", complementa o radiologista do Fleury Medicina e Saúde, Gustavo Meirelles.
"A evolução realmente tornou a tarefa mais complexa e criou a necessidade de desenvolvimento de softwares para ajudar os radiologistas", atesta o professor assistente do Departamento de Radiologia da Universidade de Stanford, Daniel Rubin, que também é membro do Comitê de Informática da Radiologia da Sociedade Norte-Americana de Radiologia (Radiology Society North America - RSNA).
As indústrias estão buscando atender a estas necessidades e, além de softwares de visualização e pós-processamento, procuram cobrir todas as áreas da medicina com novas ferramentas. "A integração de software e de hardware tem criado ferramentas muito valiosas para o pós-processamento de imagens e de outros dados com o objetivo de obter imagens em outros planos ou dimensões, medidas de inúmeros parâmetros destas imagens ou ainda de outros parâmetros mensuráveis pela metodologia específica. Estes pacotes de informações adicionais adquiridas ao mesmo tempo em que se faz um exame convencional da modalidade, seja de tomografia computadorizada ou de ressonância magnética, por exemplo, já se tornaram o padrão de referência. Nos centros de excelência já não se admite que o exame venha sem as informações adicionais obtidas pelo pós-processamento", conta Mendonça.
À esquerda, imagem com melhor detalhamento anatômico da cavidade atrial esquerda e do aparelho valvar mitral e, à direita, pós-processamento de imagem adquirida em um único bloco. (Fleury)
Mas não só ferramentas de visualização e processamento de imagens têm auxiliado os médicos. Como o próprio nome sugere, existem aplicativos que de fato apoiam a definição do diagnóstico. São os CAD - Computer Aided Detection (Detecção Auxiliada por Computação). "Os CAD são capazes de ir além e já fazem uma primeira leitura dirigida para buscar um nódulo, por exemplo. Ainda há algumas falhas, nem sempre o diagnóstico proposto pelo software é fidedigno, mas pode ser que no futuro alguns processos sejam automatizados, como já acontece na área de análises clínicas. A quantificação de cálcio nas coronárias é um exemplo", analisa Meirelles.
Computer Aided Detection & Diagnóstico em Imagens Médicas: cólon reconstruído com pólipos clinicamente relevantes sinalizados. À esquerda: vista externa. Direita: Vista interna com a linha central em destaque. (rince)
As mudanças chegam, mas trazem consigo problemas hoje já comuns quando se fala em software. Um deles é a falta de interoperabilidade: os fabricantes desenvolvem novas tecnologias, mas não permitem que elas conversem com outras já instaladas, o que exige dos compradores a adoção de todo o pacote de soluções de apenas uma marca ou a realização de constantes investimentos para atender às demandas dos equipamentos de cada fabricante. "Eu acho que a integração de métodos avançados de informática em equipamentos de imagens é lento. Ainda vemos tecnologias de ponta sendo usadas como sistemas únicos e, por isso, muitas salas de visualização de imagens acabam tendo diversos computadores e telas, de várias marcas, para atender a estes sistemas. Os fabricantes precisam permitir que estas novas funcionalidades sejam integradas nos sistemas, sem que isso exija a adoção ou incorporação de uma nova máquina ou tecnologia da mesma marca", comenta Rubin.
Para superar esta dificuldade, em 1993 foi criado o Digital Imaging Communications in Medicine (Comunicação de Imagens Digitais em Medicina - Dicom), que determina padrões para armazenamento, confirmação de armazenamento, busca e recuperação de imagens, worklists, procedimento realizado por equipamento, impressão e armazenamento em mídia off-line. A proposta de adoção deste padrão universal ainda enfrenta resistências e, por isso, quase 20 anos após o lançamento de sua primeira versão, muitos equipamentos ainda utilizam seus próprios sistemas, incompatíveis com outras máquinas.
Fonte: Saúde Business Web
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